Entenda as motivações que levam à mentira, as diferenças entre as
histórias inventadas e saiba como lidar com essas situações
"-John, o que você está comendo?
- Nada, mãe.
- Por que o saco de confete está vazio? Você comeu?
- Não, não comi nada.”
E John, de apenas três anos, teria se saído muito bem se não fosse seu
rosto estar completamente sujo de confetes. Isso ilustra bem o que toda mãe,
mais cedo ou mais tarde, precisa enfrentar: a mentira.
Em uma enquete nas nossas redes sociais, 93% dos leitores revelaram que
os filhos já inventaram alguma história, seja derivada de uma fantasia ou para
escapar de um castigo. E antes de pensar em como agir, é importante saber que a
mentira evolui conforme a idade da criança. Confira as dicas de Bruno Jardini
Mader, psicólogo infantil do Hospital Pequeno Príncipe, para lidar da melhor
maneira com essa situação de acordo com a idade:
A partir dos 2 anos
A mentira começa junto com a possibilidade de organizar pensamentos, por
isso, a partir do segundo ano de vida, a criança já usa a imaginação com esse
fim, o que pode ser confundido com fantasia. “A mentira é denominada assim por
adultos, mas crianças nessa idade usam a narrativa inventada muitas vezes sem
saber que aquilo não corresponde à realidade. Se ela faz uma coisa errada e
nega para os adultos, por exemplo, o que ela está falando é que queria que
aquilo não tivesse acontecido. Não dá para chamar de mentira propriamente dita,
porque dificilmente há juízo de valor”, explica o psicólogo.
Por isso, os pais podem se sentir desconfortáveis em chamar a atenção da
criança. É compreensível, mas pouco eficiente.Ter uma postura omissa
dificilmente vai ajudar a criança a entender que existem limites entre a
realidade e a fantasia. Para driblar esse tipo de mentira e ajudar seu filho a
compreendê-la, a dica do especialista é “trazer a situação para o concreto”. Se
a criança quebrou um vaso e nega, por exemplo, os pais podem explicar que
aquela peça tinha a função dela dentro do ambiente da casa e que agora que
quebrou, as flores vão ficar sem lugar para ficar. Faça a criança entender as
consequências de seus atos.
A partir dos 6 anos
Aqui a criança já tem o pensamento mais estruturado. É a idade em que
começa a alfabetização, a compreensão de símbolos e códigos socialmente
aceitáveis. Ela já começa a ter boa noção de certo e errado e, muitas vezes,
recorre à mentira para escapar de uma punição que considera mais severa. É a
fase em que ela também começa a desenvolver certa malandragem e malícia.
A dica aqui é perceber o contexto em que a criança mentiu. “Se os pais
conseguem perceber mentiras constantes, medidas punitivas não são ruins, desde
a criança entenda o porquê está sendo punida. A família pode mostrar que aquilo
atinge a moral, explicar que esse tipo de comportamento pode trazer prejuízos
para as pessoas, como deixá-las tristes, por exemplo”, diz Mader.
Outra dica é não deixar que a mentira se torne algo sem consequências,
em que a criança faz, os pais chamam a atenção e tudo fica por isso mesmo. “Os
pais precisam perceber que a honestidade é uma coisa a ser desenvolvida na
criança e até mesmo nos próprios pais. Coisas erradas precisam ser lembradas e
explicadas até que aquilo entre na cabeça das crianças”, explica o psicólogo.
Mas, na hora de chamar a atenção: cuidado. Se omissão diante da mentira
é ruim, o autoritarismo puro também não contribui muito para a educação, uma
vez que não exige uma auto-reflexão e pode, entre outras coisas, inibir a
imaginação, que é sempre necessária para um desenvolvimento saudável do
cérebro. Seja firme, mas demonstre empatia, mostre que compreende que seu filho
não teve a intenção de fazer algo ruim e explique que às vezes nossas atitudes
ser ruins para outras pessoas e que é por isso que devemos pensar antes de agir
ou falar.
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